Afinal, o que é pronome oblíquo átono?

Por que eles são tão importantes para a coesão textual na língua portuguesa?

Você sabe o que é pronome? Também já se pegou lendo uma frase como “entreguei-lhe o presente” e se perguntou o que, exatamente, significa esse “-lhe”? Esse é um exemplo clássico de pronome oblíquo átono — um tipo de pronome que substitui termos já mencionados ou subentendidos, e que não tem autonomia para iniciar uma frase.

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Apesar do nome parecer complicado, os pronomes oblíquos átonos fazem parte do nosso dia a dia e são essenciais para dar fluidez e evitar repetições na linguagem. Hoje, nós vamos entender o que eles são, como usá-los corretamente e por que fazem tanta diferença na construção de frases mais naturais e coesas.

O que é pronome oblíquo átono?

Os pronomes oblíquos átonos, também chamados de pronomes pessoais oblíquos átonos, são aqueles que representam as pessoas do discurso e exercem funções específicas dentro da oração, como objeto direto, objeto indireto ou complemento nominal. Diferenciam-se dos pronomes tônicos por serem pronunciados com menor intensidade sonora, ou seja, não possuem autonomia fonética suficiente para iniciar uma frase. Por isso, estão sempre ligados a um verbo ou a uma estrutura verbal.

Os pronomes classificados como oblíquos átonos são: me, te, se, o, a, os, as, lhe, lhes, nos, vos.

Funções sintáticas dos pronomes oblíquos átonos

Esses pronomes atuam principalmente como complementos verbais, podendo assumir a função de objeto direto, objeto indireto ou, em alguns casos, complemento nominal. A seguir, veja como cada grupo de pronomes se comporta dentro da oração:

1. Me, te, nos, vos – objeto direto ou objeto indireto

Esses pronomes podem exercer tanto a função de objeto direto (sem preposição) quanto de objeto indireto (com preposição implícita).

Exemplos:

  • Ele me entregou os documentos. → “me” funciona como objeto indireto (entregar algo a alguém).

  • Já te vi na festa. → “te” é objeto direto (ver alguém).

  • Conhece-nos bem. → “nos” como objeto direto (conhecer alguém).

  • Isso vos pertence. → “vos” como objeto indireto (pertencer a alguém).

2. O, a, os, as – apenas objeto direto

Esses pronomes substituem termos que exercem exclusivamente a função de objeto direto, ou seja, não vêm acompanhados de preposição.

Exemplos:

  • Foi ele quem o convidou. → “o” substitui “ele”, objeto direto de “convidar”.

  • Não a vi ontem. → “a” como objeto direto de “ver”.

  • Eles os elogiaram. → “os” funciona como objeto direto de “elogiar”.

3. Lhe, lhes – apenas objeto indireto

Já os pronomes lhe e lhes são utilizados unicamente como objetos indiretos, sempre associados a verbos que exigem preposição (normalmente “a”).

Exemplos:

  • Atiraram-lhe uma pedra. → “lhe” representa a pessoa a quem algo foi atirado (objeto indireto).

  • Contamos-lhes a verdade. → “lhes” substitui “a eles/elas”, ou seja, objeto indireto do verbo “contar”.

4. Se – objeto direto ou indireto em construções reflexivas

O pronome se é bastante versátil: pode ocupar a posição de objeto direto ou indireto, mas aparece sempre em construções reflexivas, ou seja, quando o sujeito pratica e recebe a ação ao mesmo tempo.

Exemplos:

  • Ela penteou-se com cuidado. → “se” indica que ela fez a ação em si mesma (objeto direto).

  • Ele olhou-se no espelho. → “se” como reflexo do sujeito que realiza e sofre a ação de “olhar”.

Afinal, o que é pronome oblíquo átono? (Foto: Unsplash).
Afinal, o que é pronome oblíquo átono? (Foto: Unsplash).

Colocação dos oblíquos átonos: como e quando usar

Os pronomes oblíquos átonos desempenham um papel essencial na coesão e clareza das frases. Na língua portuguesa, esses pronomes não têm autonomia para iniciar uma oração, o que significa que sua posição em relação ao verbo é fundamental. Dependendo do contexto, eles podem ser colocados antes, depois ou até mesmo no meio do verbo. Veja a seguir as principais regras e exemplos para cada uma dessas situações:

1. Próclise: antes do verbo

A próclise ocorre quando o pronome átono aparece antes do verbo. Essa é a colocação mais comum na linguagem cotidiana, especialmente quando a oração contém palavras que atraem o pronome para essa posição.

A próclise é obrigatória quando há:

  • Palavras de negação: não, nunca, ninguém, jamais

  • Pronomes relativos: que, quem, cujo

  • Pronomes indefinidos: alguém, tudo, cada

  • Pronomes demonstrativos: este, essa, aquilo

  • Advérbios: ali, aqui, logo, muito

  • Conjunções subordinativas: embora, se, porque, conforme

Exemplo:

Não me diga isso!

(não exige que o pronome venha antes do verbo)

2. Ênclise: depois do verbo

A ênclise ocorre quando o pronome aparece depois do verbo, ligado a ele por hífen. Essa colocação é comum quando não há palavra atrativa antes do verbo ou quando a oração começa com o verbo.

A ênclise é usada com:

  • Verbos no imperativo afirmativo: Digam-me a verdade!

  • Verbos no infinitivo pessoal: É hora de pentear-te.

  • Verbos que iniciam a oração: Disse-me que viria.

Exemplo:

Fiz-lhe um favor.

(O verbo inicia a frase, exigindo ênclise)

3. Mesóclise: no meio do verbo

A mesóclise é uma colocação mais formal e ocorre quando o pronome é inserido no meio do verbo, separando o radical do sufixo. Essa forma é restrita aos tempos verbais no futuro do presente ou futuro do pretérito.

Exemplo:
Contar-te-ei tudo amanhã.
(O verbo está no futuro do presente: “contarei”)

Adaptações fonológicas

Alguns pronomes oblíquos sofrem modificações quando usados com verbos que terminam em certas consoantes. Se o verbo termina em -r, -s ou -z, essas letras são eliminadas e o pronome o, a, os, as assume as formas lo, la, los, las.

Exemplos:

  • Fi-lo porque quis. (fiz + o → lo)

  • Qui-lo com toda a alma. (quis + o → lo)

Se o verbo termina com som nasal (como -m ou -ão), os pronomes são adaptados para no, nos, na, nas.

Exemplos:

  • Levaram-no ao médico.

  • Soltem-nas imediatamente!

Mycarla Oliveira, especialista em língua portuguesa, no portal Pensar Cursos, também detalha sobre “Hora literária – “Cartas chilenas”, de Tomás Antônio Gonzaga”, que apresentam uma crítica política velada ao governo colonial, especialmente à figura do governador de Minas Gerais.

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