A concordância entre o pronome “se” e verbos
Aprenda as regras e evite erros comuns na escrita e na fala!

A concordância entre o pronome “se” e os verbos é um aspecto essencial da gramática da língua portuguesa, mas que pode gerar dúvidas. Isso ocorre porque o pronome “se” pode desempenhar diferentes funções na oração, influenciando diretamente a concordância verbal.
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Dependendo do contexto, ele pode indicar voz reflexiva, recíproca ou passiva sintética, o que exige atenção às regras específicas de concordância. Hoje, nós exploraremos as principais situações em que o pronome “se” aparece, analisando como ele afeta a estrutura verbal e como evitar erros comuns na escrita e na fala.
A concordância entre o pronome “se” e verbos
Para compreender a relação entre o pronome “se” e a concordância verbal, é essencial reconhecer as duas principais funções que ele pode desempenhar: como pronome apassivador e como índice de indeterminação do sujeito. Cada um desses usos tem implicações diretas na estrutura da frase e na forma verbal empregada. A seguir, analisaremos ambos os casos em detalhes.
O pronome “se” como pronome apassivador
Quando acompanhado de verbos transitivos diretos, ou seja, aqueles que exigem um complemento sem preposição, o pronome “se” atua como um indicador da voz passiva sintética. Esse tipo de construção permite que o sujeito receba a ação expressa pelo verbo. Veja o exemplo a seguir:
- “Consertam-se calçados.”
Aqui, o termo “calçados” funciona como o complemento do verbo “consertar”, que é transitivo direto. Para confirmar que a frase está na voz passiva sintética, podemos reescrevê-la na voz passiva analítica:
- “Calçados são consertados.”
Ao fazer essa transformação, fica evidente que o sujeito da oração (“calçados”) concorda com o verbo (“consertar”), que passa a ser flexionado no plural. Esse é um ponto fundamental: quando o pronome “se” tem função apassivadora, o verbo deve concordar com o sujeito paciente da oração.
O pronome “se” como índice de indeterminação do sujeito
Outra situação ocorre quando o pronome “se” não indica uma ação passiva, mas sim a presença de um sujeito indeterminado. Isso acontece com verbos transitivos indiretos e intransitivos. Nesses casos, o verbo sempre permanecerá na terceira pessoa do singular. Veja os exemplos:
“Precisa-se de costureiras experientes.”
“Vive-se tranquilamente neste lugar.”
No primeiro exemplo, o verbo “precisar” é transitivo indireto, pois exige a preposição “de” para introduzir seu complemento (“de costureiras experientes”). Esse detalhe impede que a oração seja interpretada como uma construção passiva. Assim, o sujeito é indeterminado, e o verbo se mantém no singular.
No segundo caso, o verbo “viver” é intransitivo, ou seja, não necessita de complemento para que a ideia seja completa. O pronome “se”, portanto, cumpre o papel de indeterminar o sujeito, e a concordância verbal permanece na terceira pessoa do singular.
Erros comuns e como evitá-los
A concordância verbal envolvendo o pronome “se” pode gerar dúvidas e levar a erros frequentes na escrita e na fala. Muitas vezes, a confusão ocorre porque o falante não identifica corretamente a função do pronome na oração, o que compromete a flexão do verbo. A seguir, analisamos alguns dos equívocos mais comuns e como corrigi-los.
1. Concordância inadequada na voz passiva sintética
Erro: vende-se casas na praia.
Correção: vendem-se casas na praia.
Explicação: “vender” é transitivo direto e está sendo usado na voz passiva sintética. O termo “casas” funciona como sujeito paciente, ou seja, é o elemento que sofre a ação de ser vendido. Como “casas” está no plural, o verbo precisa concordar com ele, assumindo a forma “vendem-se”.
2. Flexionar o verbo no plural quando o sujeito é indeterminado
Erro: precisam-se de funcionários qualificados.
Correção: precisa-se de funcionários qualificados.
Explicação: o verbo “precisar” é transitivo indireto (quem precisa, precisa de algo), e o pronome “se”, nesse caso, funciona como índice de indeterminação do sujeito. Como o sujeito é indeterminado, o verbo deve sempre permanecer na terceira pessoa do singular, independentemente do complemento da oração.
3. Usar o verbo no plural com verbos intransitivos ou de ligação
Erro: vivem-se bem nesta cidade.
Correção: vive-se bem nesta cidade.
Explicação: “viver”, na frase, é intransitivo e indica uma ação sem objeto direto. Como o pronome “se” atua como índice de indeterminação do sujeito, o verbo não deve ser flexionado no plural, mantendo-se no singular.
Erro: estavam-se animados para a festa.
Correção: estava-se animado para a festa.
Explicação: o verbo “estar”, nesse caso, tem função de ligação, e o pronome “se” está indeterminando o sujeito. Como regra, verbos de ligação seguidos do “se” com essa função também permanecem na terceira pessoa do singular.
Dicas para evitar esses erros
Identifique o tipo de verbo: verifique se ele é transitivo direto (permitindo a passiva sintética), transitivo indireto ou intransitivo (levando à indeterminação do sujeito).
Reescreva a frase na voz passiva analítica: se fizer sentido, significa que se trata de uma passiva sintética e o verbo deve concordar com o sujeito. Se não fizer sentido, provavelmente o sujeito é indeterminado, e o verbo deve ficar no singular.
Atente-se à presença de preposição: se o verbo exigir preposição, dificilmente a frase estará na voz passiva sintética, e a concordância verbal deve permanecer no singular.
Ao compreender essas diferenças, torna-se mais fácil empregar corretamente a concordância com o pronome “se” e evitar equívocos na comunicação escrita e oral.
Considerações finais
Distinguir o papel do pronome “se” em uma frase é essencial para garantir o uso correto da concordância verbal. Quando ele atua como pronome apassivador, o verbo deve concordar com o sujeito paciente da oração. Já quando desempenha a função de índice de indeterminação do sujeito, o verbo permanece sempre no singular. Compreender essas diferenças ajuda a evitar erros e aprimora a clareza da escrita e da comunicação oral.