Qual é a diferença entre uma língua e um dialeto?

 

Quem gosta de geografia, certamente já se impressionou quando, ao abrir certo atlas, encontrou alguns países (principalmente do continente africano e oceânico) com uma dezena de dialetos listados, entre as línguas oficiais.

Por sua vez, em estudos pós-coloniais, há uma corrente ideológica que questiona o porquê de ex-colônias europeias, hoje independentes, terem entre suas línguas oficiais Inglês, Francês ou outra língua europeia, enquanto as línguas de povos originários são classificadas como “dialetos”.

Isso porque, línguas são ícones culturais que estabelecem uma relação política entre os falantes. Tão verdade é, que Vargas, em seu primeiro governo (1930-1945), instituiu o Português como língua oficial (e única) do Brasil.

Com isso, o então presidente brasileiro almejava a construção de uma identidade nacional. Mais do que isso, oficializar uma língua significa tirar a importância de dialetos.

Mas afinal, o que é um dialeto? O que diferencia ele de uma língua?

 

Uma questão política

Da parte da linguística, diversas perspectivas procuram diferenciar línguas e dialetos.

Uma explicação, não muito convincente, coloca a língua enquanto um conjunto lexical, organizado por regras gramaticais, regras de prosódia (pronúncia) e uso geral.

Já o dialeto seria uma variedade de uma língua “oficial”, com seu uso restrito a um grupo específico.

Mas aqui nós temos diversas lacunas. Por exemplo, quando consideramos o iorubá: é uma língua amplamente falada na Nigéria, e em países em volta. Porém, a língua oficial é o Inglês. Por quê?

Assim, não temos como fugir de explicações pautadas em política. A língua oficial de um país é aquela que é usada em eventos oficiais. Isso é, eventos de caráter político, eventos sociais, eventos internacionais.

Nesse sentido, é compreensível que a língua de países como Nigéria e África do Sul seja o Inglês, e não, respectivamente, o Iorubá e o Zulu.

Porém, aí surge a questão: e por que é o inglês a “língua oficial”? É pelos séculos de dominação que a Europa exerceu sobre esses país.

E as demais línguas? São línguas? Dialetos?

 

Gramática e oralidade

Fora de uma definição política, ainda pensando em linguística, temos uma explicação que é mais convincente.

Trata-se da sistematização dessa língua. Um dialeto seria uma língua de predominância oral. Ou seja, é uma língua que tem seu uso na oralidade, logo, não está sistematizado gramaticalmente.

Isso é uma definição um pouco mais interessante, porque dá margem para colocarmos idiomas como Tupi-guarani, Iorubá ou o Hiri Motu da Papua Nova-Guiné enquanto línguas, e não dialetos.

Há gramáticas dessas línguas. Efetivamente, elas foram sistematizadas, podem ser estudadas por meio de livros.

Mas aqui incorremos em mais um problema. Se uma sistematização é baseada, puramente, em registros escritos, essa é uma perspectiva europeizada.

Afinal, há povos tradicionais sem linguagem escrita. Relacionar o conhecimento ao registro escrito é uma perspectiva europeia, que desconsidera povos ágrafos.

 

Dialetos são línguas

Como vemos, língua e dialeto são as mesmas coisas. Com a diferença que o “dialeto” seria uma língua falada por um povo sem prestígio político “oficial”.

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