Qual é a importância do Tropicalismo, para a cultura brasileira?
No dia 09 de novembro, a cantora Gal Costa morreu. Falecendo aos 77 anos, sua morte foi sentida por todos os brasileiros, não apenas por sua evidente grandiosidade como cantora e pessoa.
Também, por ser um dos nomes mais importantes das artes brasileiras dos últimos 60 anos. Gal começou sua carreira em 1964, integrando o Tropicalismo, um movimento de múltiplas linguagens artísticas, que revolucionou a produção cultural brasileira.
Além de Gal, artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Glauco Rodrigues, Torquato Neto e Joaquim Pedro de Andrade foram nomes marcantes, que ainda hoje influenciam as artes nacionais.
Mas o que foi o tropicalismo? Por que ele é tão importante? Por que os artistas desse movimento são, hoje, tão reverenciados?
Para entender melhor, leia nosso artigo, e veja quais são as reverberações do tropicalismo no século 21.
Primeiros precedentes: a arte francesa e o pós-Guerra
As origens do tropicalismo se relacionam, diretamente, ao Movimento Modernista, que culminou na Semana de 22.
Isso porque, até inícios do século 20, a arte brasileira – e ocidental, de maneira mais ampla – tinha na cultura e estética da França, seu Norte. Pinturas, músicas, livros eram influenciados pelas formas francesas.
Como resposta a esse problema, surgiu um movimento voltado a valorização da cultura brasileira, teorizados pelos escritores Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), de revisão das artes brasileiras.
Manifestos como o Movimento Antropofágico e Manifesto da Poesia Pau-Brasil postularam que a arte brasileira era um híbrido das artes Afro-ameríndias e Europeias.
Como herança, tivemos o surgimento de uma arte brasileira “legítima”, e manifestações como o samba, xote e catira foram valorizadas.
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os Estados Unidos começaram um processo de influência política e cultural, pelo mundo, incluindo a América-Latina, que, por suas desigualdades sociais e questões econômicas, tinha tendência a abraçar o comunismo.
Logo, a cultura brasileira de então foi construída de forma a se tornar comercial, para estrangeiros.
O pós-Guerra e a cultura de exportação
Após a guerra, e com Castro assumindo o poder em Cuba (1959), esse “medo do comunismo” agravou a influência estado-unidense, com o agravante de movimentos proto-militares e militares extremistas.
O aspecto comercial (de “exportação”) de produções brasileiras foi amplificado. Músicas e produções literárias, dramatúrgicas e cinematográficas de caráter político foram atacados, combatidos e proibidos.
Como forma de enfrentar essa visão colonialista, artistas brasileiros começaram um movimento de resgate dos movimentos culturais brasileiros, porém, sem o nacionalismo cego de antes.
O ideal dos Movimento Modernista foi revitalizado, e atualizado para a nova realidade brasileira. Ou seja, a cultura brasileira era encarada como uma mescla de influências Africanas, Americanas, Europeias e Asiáticas.
A esse movimento, foi dado o nome de Tropicalismo, a partir de uma obra do pintor Hélio Oiticica (1937-1980).
Além de uma revisão crítica das artes nacionais, o movimento foi marcado por intensa atividade política. Com influências do surrealismo e da pop art americana, o Tropicalismo criou novos precedentes para a cultura brasileira.