Quem foi Gregório de Mattos?
Um dos primeiros e mais importantes autores do Brasil foi Gregório de Mattos (1636-1696), e hoje, mesmo após mais de 350 anos de sua morte, a leitura de seus poemas ainda é de enorme importância, no Brasil.
Apesar de sua linguagem (bastante) datada, seus poemas ainda são compreendidos (não sem alguma dificuldade, claro), e ainda causam os efeitos que eles pretendiam. Tanto que um de seus poemas é citado por Caetano Velosos, no seu álbum Transa de 1972.
Alguns anos depois, o autor também foi objeto de dramatização no filme com seu nome, estrelado pelo poeta Waly Salomão, e dirigido por Ana Carolina Teixeira Soares, em 2002.
Mas por quê? O que esse Gregório de Mattos escreveu que, ainda hoje, torna sua obra importante e digna de nota? E por que o autor tinha alcunhas como Boca do Inferno ou Boca de Brasa?
Para saber mais, leia nosso artigo.
O Brasil do Século 17
O Brasil do século 17 era uma colônia em que imperavam eram de influências. Ou seja, a ascensão social e econômica dependia de “contatos” com pessoas poderosas, como religiosos da Igreja Católica, que tratava de assuntos morais com extremos rigor.
Foi nesse contexto que Mattos nasceu. Seus familiares eram empreiteiros e burocratas da administração pública. Logo, Gregório nasceu numa família de elite, estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia, e posteriormente, em Lisboa.
Exercendo cargos jurídicos, como Juiz de Fora (hoje Juiz de Paz) e procurador, voltou ao Brasil em 1679, onde atuou como desembargador e tesoureiro.
Ou seja, Mattos conheceu o sistema político, econômico e administrativo luso-brasileiro (e suas falhas) com propriedade.
Carreira literária
Entretanto, sua fama (e suas brigas com setores sociais) se deveu a sua carreira de escritor. Desde seus anos portugueses, Mattos escrevia, e muitos de seus versos eram mordazes, atacando costumes e instituições.
O teor de sua poesia ficou mais grave após 1683, quando o autor começou a ter discordância com autoridades político-religiosas do Brasil. Seus poemas começaram a trazer temas como a corrupção financeira e a hipocrisia da classe religiosa.
Em muitos de seus poemas, Gregório de Mattos versa sobre assuntos que eram tabus na Igreja, como sexualidade e acúmulos de capital, e certos críticos da época entendiam que as personagens dos poemas eram personalidades da cidade de Salvador de então.
Sofrendo ameaças, inclusive de ser morto, é deportado para Angola, por influência de um governador, seu amigo. Retornando ao Brasil em 1696, onde morre.
Poesia social
Sua poesia traz críticas sociais e denúncias à corrupção, que ainda hoje reverberam no Brasil. Alinhado ao movimento Barroco, sua poesia traz os diversos elementos dessa escola.
Gregório aponta para as falhas de caráter dos membros da sociedade, ao mesmo tempo em que debate a busca pela perfeição moral.
Se de um lado ele crítica a religiosidade ambígua de eclesiásticos, do outro, reverencia um sentimento religioso e espiritual, para além das instituições. Seus ataques aos poderes políticos de então encontraram paralelo, com os movimentos políticos dos anos 70.