Realismo fantástico – o que é, obras e como reconhecer
Veja esse gênero literário que mistura o fantástico com o cotidiano, criando narrativas únicas e envolventes.
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O que é realismo fantástico?
A literatura de fantasia tem raízes profundas nas tradições orais das primeiras comunidades humanas, onde se contavam histórias sobre mundos distantes, muitas vezes imaginários, ou sobre épocas passadas. Em contraste, a literatura realista, como apontado pelo autor Jorge Luis Borges, começou a se formar apenas a partir do século XIII, com o surgimento das sagas escandinavas e do romance picaresco.
Com a Revolução Industrial e as mudanças significativas que trouxe para a vida cotidiana na Europa, o romance de costumes tornou-se o principal gênero literário. Este tipo de romance se passa em uma sociedade geralmente contemporânea ao autor, com o objetivo de retratar e analisar os valores, crenças e contradições dessa sociedade.
A tendência de ambientar histórias no presente intensificou-se com o surgimento dos movimentos realista e naturalista no século XIX. Esses movimentos visavam representar a realidade da forma mais objetiva possível, utilizando conceitos científicos e deterministas para explicar a vida. O período foi marcado por avanços na ciência, no método científico e em novas tecnologias, refletindo um mundo cada vez mais rápido e automatizado.
Assim, a literatura se aproximou daquilo que é considerado real, deixando pouco espaço para narrativas que incluíam elementos fora do âmbito lógico e científico; no entanto, com o advento das vanguardas artísticas na primeira metade do século XX, a arte começou a explorar novas direções e a buscar rupturas com as convenções artísticas anteriores, muitas vezes com a intenção de transformar a própria realidade.
Realismo mágico, fantástico ou maravilhoso?
Embora frequentemente usados como sinônimos, os termos realismo fantástico, realismo mágico e realismo maravilhoso não são intercambiáveis e geram debates significativos entre os críticos literários.
O realismo maravilhoso está geralmente associado à literatura latino-americana e deriva do conceito de “maravilhoso” presente nos relatos e descrições dos colonizadores durante as Grandes Navegações. Esse estilo literário muitas vezes adota uma postura crítica que reflete uma afirmação cultural latino-americana, contrastando o realismo europeu com as realidades desiguais da América Latina.
Enquanto a modernização europeia transformou superficialmente a sociedade, as estruturas arcaicas de exploração e poder colonial persistiram. Assim, o realismo maravilhoso serve como uma alegoria para os múltiplos tempos e contradições da realidade latino-americana.
Já os conceitos de realismo fantástico e realismo mágico não estão associados a um movimento ou contexto específico. Eles são aplicados a uma variedade de obras e autores, como E.T.A. Hoffmann e Edgar Allan Poe, que exploram temas muito distintos dentro dessas categorias.
Características principais
A literatura do realismo mágico é marcada pela integração de elementos do cotidiano com aspectos de universos folclóricos, oníricos ou míticos. Esses elementos extraordinários e fantásticos são completamente incorporados, tornando sua coexistência com a realidade objetiva natural e fluida. É comum encontrar rompimentos com a linearidade temporal e o princípio da causalidade, além de uma problematização da racionalidade.
Principais obras
Os autores mais proeminentes do realismo mágico latino-americano incluem Gabriel García Márquez (Colômbia, 1927-2014) e Jorge Luis Borges (Argentina, 1889-1986). Outros escritores notáveis são Mario Vargas Llosa (Peru, 1936), Julio Cortázar (Argentina, 1914-1984) e Isabel Allende (nascida no Peru em 1942 e radicada no Chile).
Realismo fantástico no Brasil
Murilo Rubião é considerado o pioneiro do gênero fantástico na literatura brasileira. Nascido em Silvestre Ferraz, atualmente conhecido como Carmo de Minas (MG), em 1º de junho de 1916, e falecido em setembro de 1991 na capital mineira, Rubião produziu uma obra relativamente concisa, composta por 33 contos meticulosamente escritos e revisados.
Rubião foi responsável por introduzir o realismo fantástico no Brasil, um estilo narrativo que mescla elementos contrastantes e permite a presença de criaturas fantásticas, como dragões e coelhos falantes. Seus contos frequentemente combinam essas figuras imaginárias com epígrafes bíblicas e retratam cenários que vão desde reinos distantes e seres estranhos até paisagens do cotidiano mais comum.