Entenda o que é o sal-gema e por que sua extração causou problemas em Maceió
O sal-gema é um tipo de sal encontrado em depósitos subterrâneos e é composto principalmente por cloreto de sódio. Ele é extraído através de métodos de mineração subterrânea, geralmente por meio da dissolução da rocha salina e da extração da solução resultante.
Em Maceió, a extração do sal-gema gerou problemas ambientais e sociais significativos devido à atividade de mineração praticada na região. A prática de extração do sal-gema, além de causar impactos ambientais como a subsidência do solo, provocou afundamentos e rachaduras em áreas urbanas, afetando diretamente a infraestrutura e a segurança das comunidades locais.
A exploração descontrolada e a falta de medidas adequadas de monitoramento e mitigação dos impactos ambientais levaram a consequências desastrosas para a cidade. Os danos causados pela mineração do sal-gema em Maceió resultaram em desalojamentos, prejuízos materiais e riscos à vida dos habitantes, levando a debates sobre regulamentações mais rigorosas e medidas de compensação para as pessoas afetadas.
Entenda!
Em Maceió, uma porção da comunidade enfrenta um período de incerteza após a prefeitura da capital de Alagoas decretar estado de emergência em uma das minas de sal-gema exploradas pela empresa petroquímica Braskem no bairro do Mustange. Esse acontecimento é apenas um episódio adicional em uma série de eventos que teve início em 2018, quando ocorreram afundamentos em cinco bairros, resultando no deslocamento de aproximadamente 60 mil moradores, obrigados a abandonar suas residências.
O perigo iminente de colapso em uma das 35 minas operadas pela Braskem está sendo acompanhado de perto pela Defesa Civil de Maceió, identificado devido ao aumento no afundamento. A empresa reconhece a possibilidade de um grande desabamento na área, destacando também a chance de o solo se acomodar. Um eventual colapso poderia provocar um tremor de terra e gerar uma cratera maior do que o estádio do Maracanã. No entanto, as consequências exatas ainda não estão claras, enquanto o governo federal monitora a situação de forma atenta.
A indagação que surge é: o que é o sal-gema?
Em contraste com o sal comum obtido do mar e utilizado na culinária, o sal-gema é encontrado em depósitos subterrâneos formados ao longo de milhares de anos pela evaporação de partes do oceano. Consequentemente, o cloreto de sódio presente no sal-gema é acompanhado por diversos minerais.
Também conhecido como halita, o sal-gema é comercializado para uso doméstico e é facilmente encontrado em supermercados. Um exemplo é o sal extraído do Himalaia, que apresenta uma coloração rosa devido às características da região, sendo considerado um tipo de sal-gema.
Além de ser utilizado na culinária, o sal-gema é uma matéria-prima versátil para a indústria química. É empregado na fabricação de soda cáustica, ácido clorídrico, bicarbonato de sódio, sabão, detergente e pasta de dente, sendo amplamente utilizado na produção de produtos de limpeza, higiene e até mesmo em produtos farmacêuticos.
Inicialmente, a exploração em Maceió estava concentrada na produção de dicloroetano, uma substância essencial na fabricação de PVC. Desde a inauguração de sua unidade industrial em Marechal Deodoro, próxima a Maceió, em 2012, a Braskem consolidou-se como a principal produtora de PVC no continente americano. Outras indústrias, incluindo as de celulose e vidro, também utilizam o sal-gema em seus processos produtivos.
A exploração do sal-gema, assim como de outros minerais, está sujeita a licenciamento ambiental e é rigorosamente fiscalizada pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Internacionalmente, o Brasil desempenha um papel relevante nesse mercado. Em 2002, foram extraídas 7 milhões de toneladas, segundo dados da ANM. No entanto, o ranking mais recente revela que os três principais produtores globais têm uma produção muito mais expressiva em comparação com os demais: China (64 milhões de toneladas), Índia (45 milhões) e Estados Unidos (42 milhões).
Como começou essa extração do sal-gema?
Em Maceió, a exploração das minas teve início em 1976 pela empresa Salgema Indústrias Químicas, que foi estatizada e posteriormente privatizada. Em 1996, passou a ser chamada de Trikem e, após a fusão com outras empresas menores em 2002, adotou o nome Braskem, com controle majoritário do Grupo Novonor, anteriormente conhecido como Grupo Odebrecht. A Petrobras também detém uma participação acionária significativa na empresa, com 47% das ações, compartilhando o controle acionário com a Novonor. Atualmente, a Braskem expandiu suas operações não apenas no Brasil, mas também em outros países, incluindo Estados Unidos, México e Alemanha.
O processo de exploração em Maceió envolvia a perfuração de poços até atingir a camada de sal, que às vezes se encontrava a profundidades superiores a mil metros. Posteriormente, água era injetada para dissolver o sal-gema, formando uma salmoura. Utilizando um sistema de pressão, essa solução era então conduzida até a superfície. Após a extração, era necessário preencher esses poços com uma solução líquida para manter a estabilidade do solo.
O problema em Maceió surgiu devido ao vazamento dessa solução líquida, resultando na formação de vazios na camada de sal. Uma teoria sugerida por pesquisadores aponta para uma possível relação com falhas geológicas na região. Como consequência, a instabilidade no solo desencadeou um tremor de terra sentido em março de 2018, ocasionando afundamentos nos bairros de Pinheiro, Mustange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.
Com o surgimento de novos tremores e o aparecimento de rachaduras em residências e vias públicas, a Braskem anunciou o encerramento da exploração das minas em maio de 2019. A empresa afirma ter desembolsado R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes dessas localidades. No entanto, uma parcela dos afetados busca reparação por meio de ações judiciais. O caso também está sendo discutido em processos movidos pelo Ministério Público Federal (MPF).