Só gramática – do que serve a função fática no português?
Veja como ela mantém a comunicação fluindo no português falado e escrito.

Já sabe o que é a função fática? Em uma conversa, nem sempre falamos para informar algo novo. Muitas vezes, usamos palavras apenas para iniciar, manter ou encerrar o diálogo. É aí que entra a função fática da linguagem, um dos seis tipos de comunicação identificados pelo linguista Roman Jakobson.
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Expressões como “Alô?”, “Está me ouvindo?” e “Então, né?” cumprem um papel essencial: garantir que a interação continue fluindo. Mas será que essa função vai além do simples contato? Como ela se manifesta no português do dia a dia? Vamos explorar a importância da função fática na comunicação.
A função fática na língua portuguesa
A comunicação humana vai muito além da simples transmissão de informações. Em diversas situações, usamos a linguagem não apenas para informar, expressar sentimentos ou persuadir, mas também para testar, manter e encerrar um contato. Esse é o papel da função fática, uma das seis funções da linguagem estabelecidas pelo linguista Roman Jakobson.
A função fática tem como foco principal o canal de comunicação, ou seja, o meio pelo qual a mensagem é transmitida entre emissor e receptor. Seu objetivo é verificar se o contato está estabelecido, garantir que a interação continue fluindo ou, até mesmo, finalizá-la de maneira adequada.
As funções da linguagem e o papel da função fática
Para entender melhor a função fática, é importante conhecer as outras cinco funções da linguagem, cada uma delas voltada para um elemento específico da comunicação:
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Função referencial (ou denotativa): tem foco no contexto, buscando transmitir informações de forma objetiva. Exemplo: “A água ferve a 100°C.”
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Função emotiva (ou expressiva): tem foco no emissor, manifestando emoções, opiniões ou estados de espírito. Exemplo: “Estou tão feliz hoje!”
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Função conativa (ou apelativa): tem foco no receptor, tentando influenciá-lo ou convencê-lo. Exemplo: “Não perca esta promoção imperdível!”
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Função metalinguística: tem foco no código, explicando ou analisando a própria linguagem. Exemplo: “O verbo ‘correr’ está no presente do indicativo.”
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Função poética: tem foco na mensagem, explorando a estética e a sonoridade das palavras. Exemplo: “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” (Carlos Drummond de Andrade)
Já a função fática se diferencia por dar atenção ao próprio ato de comunicação. Ela não busca transmitir uma mensagem nova ou expressar sentimentos profundos, mas sim garantir que a interação entre emissor e receptor esteja ativa e funcional.
Características
A função fática pode ser reconhecida por alguns traços específicos:
Testar o canal de comunicação: verificar se a conexão está estabelecida. Exemplo:
- “Alô?” (usado ao atender uma ligação para confirmar a comunicação)
- “Oi, tá me ouvindo?” (em chamadas telefônicas ou virtuais)
Manter o contato durante uma conversa: evitar pausas ou silêncios constrangedores. Exemplo:
- “Hum… sei…” (para indicar que está acompanhando a conversa)
- “Uhum…” (sinalizando que continua prestando atenção)
Chamar a atenção do interlocutor: confirmar se ele está focado na interação. Exemplo:
- “Né?”
- “Sabe?”
- “Escuta, deixa eu te contar…”
Encerrar a comunicação de maneira educada e previsível. Exemplo:
- “Então tá, a gente se fala depois!”
- “Tchau, tchau!”
Exemplos práticos de função fática
A função fática aparece em diversas situações do cotidiano. Aqui estão alguns exemplos comuns:
🔹 Durante uma ligação telefônica
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“Alô?” (para confirmar que a linha está aberta)
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“Oi? Sua voz tá cortando!” (para sinalizar falha na conexão)
🔹 No ambiente digital
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“Você tá aí?” (quando alguém demora a responder no chat)
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“Oi, só pra confirmar, você recebeu o e-mail?”
🔹 Em interações sociais presenciais
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“Então… né?” (para evitar silêncios incômodos)
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“E aí, tudo bem?” (cumprimento que não exige uma resposta detalhada, apenas mantém o contato)
Em resumo
A função fática pode parecer simples, mas tem um papel fundamental na comunicação. Ela garante que a interação flua de maneira eficiente, evitando ruídos e desconexões. Desde ligações telefônicas até conversas casuais, esse tipo de linguagem nos ajuda a testar, manter e encerrar diálogos de maneira natural e socialmente apropriada.
Agora que você a conhece melhor, já reparou como ela está presente no seu dia a dia?