Que fase é essa? Terceira geração do Romantismo
Marcada pelo pessimismo, pelo mal do século e por escritores como Álvares de Azevedo.
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O Romantismo foi um dos movimentos literários mais marcantes da história, caracterizado pela exaltação da emoção, do individualismo e da subjetividade. No Brasil, ele se desenvolveu em três gerações distintas, cada uma com traços e temáticas próprias. A terceira geração romântica, também chamada de “geração maldita” ou “ultrarromântica”, destacou-se pelo pessimismo, pela obsessão com a morte e pela influência do mal do século.
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Escritores como Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e Casimiro de Abreu deram voz a um lirismo melancólico e sombrio, refletindo as angústias de uma juventude desencantada. Neste texto, exploraremos as características, os principais autores e o impacto dessa fase tão intensa da literatura brasileira.
Terceira geração do Romantismo
A terceira geração do Romantismo no Brasil, também conhecida como “geração maldita” ou “ultrarromântica”, desenvolveu-se na segunda metade do século XIX e foi marcada por um forte pessimismo, idealização da morte e influência do movimento europeu conhecido como “mal do século”. Os poetas dessa fase expressavam um profundo desencanto com a vida, explorando temas como solidão, tédio, amor idealizado e morbidez. A morte era frequentemente vista como uma libertação, e a boemia, um refúgio para as angústias existenciais.
Entre os principais autores desse período, destacam-se Álvares de Azevedo, Fagundes Varela, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire. Suas obras apresentam um tom melancólico e confessional, refletindo o conflito entre sonho e realidade, bem como o desejo de fuga do mundo. Influenciados pelo romantismo europeu, especialmente por Lord Byron e Musset, esses escritores deixaram uma marca intensa e apaixonada na literatura brasileira.
Apesar de seu tom sombrio, a terceira geração romântica teve grande impacto na construção da identidade literária nacional e influenciou correntes posteriores, como o Simbolismo e o Modernismo.
Principais características da terceira geração
A terceira geração do Romantismo, também chamada de hugoniana ou condoreira, apresenta traços que antecipam o Realismo, especialmente na abordagem de questões sociais. Seus escritores adotam uma postura crítica em relação à sociedade, dando ênfase à realidade e evitando a idealização excessiva. Como defensores da liberdade, muitos desses poetas se engajaram na luta abolicionista, utilizando a literatura como ferramenta de conscientização.
Apesar dessa inclinação para a crítica social, a geração ainda mantém elementos românticos, como a valorização da emoção para envolver os leitores. Para isso, fazem uso de recursos estilísticos como vocativos, que criam proximidade com o público, e exclamações, que intensificam o tom apaixonado dos versos. Além disso, o exagero imagético é uma característica marcante, sendo a hipérbole um recurso frequente.
O amor continua sendo um tema recorrente, mas com uma abordagem diferente das gerações anteriores. O eu lírico deixa de lado o platonismo e passa a exaltar o desejo e a paixão carnal, como pode ser observado no poema O gondoleiro do amor, de Castro Alves:
Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
[…]E como em noites de Itália
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
[…]Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no langor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?
[…]
Principais autores da terceira geração do Romantismo
Principais autores e obras da terceira geração do Romantismo brasileiro
A terceira geração do Romantismo no Brasil foi marcada por escritores engajados socialmente, que utilizaram a poesia como meio de denúncia e reflexão sobre temas como a escravidão, a liberdade e a injustiça. Entre os principais nomes desse período, destacam-se:
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Castro Alves (1847-1871) – considerado o maior representante dessa geração, o poeta baiano ficou conhecido como o “poeta dos escravos” devido ao seu ativismo abolicionista. Sua obra mais emblemática nesse sentido é Os Escravos (publicada postumamente em 1883), na qual denuncia a crueldade da escravidão no Brasil. Além disso, lançou Espumas Flutuantes (1870), seu único livro publicado em vida, que reúne poesias de diferentes temáticas, incluindo o amor, a natureza e o lirismo social.
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Sousândrade (1832-1902) – natural do Maranhão, Joaquim de Sousa Andrade, conhecido como Sousândrade, destacou-se por uma poesia inovadora e de caráter experimental para a época. Sua obra mais relevante, O Guesa Errante (1884), apresenta uma visão crítica da sociedade e da exploração econômica, utilizando uma linguagem ousada e simbólica. Embora pouco compreendido em seu tempo, Sousândrade é hoje reconhecido como um precursor da poesia modernista brasileira.
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Tobias Barreto (1839-1889) – poeta, filósofo e jurista sergipano, Tobias Barreto se destacou tanto na literatura quanto no pensamento crítico. Sua obra Dias e Noites (1881) reflete sua visão ilosófica e engajamento com temas políticos e sociais, trazendo reflexões sobre a condição humana, a liberdade e a modernidade. Além da poesia, Tobias Barreto teve grande influência na formação da intelectualidade brasileira, especialmente na transição para o Realismo.
Esses escritores contribuíram para consolidar uma literatura mais crítica e combativa, rompendo com o idealismo das gerações anteriores e aproximando a poesia de temas urgentes para a sociedade da época.