Bye, trema! Por que dissemos adeus ao trema no português?

Como essa mudança afetou a escrita e a pronúncia da língua?

Você já se perguntou por que o trema desapareceu do português? Aqueles dois pontinhos sobre a letra u, tão comuns em palavras como “linguiça” e “tranquilo”, eram um símbolo familiar na escrita, mas foram oficialmente abolidos com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Apesar de sua retirada, a pronúncia dessas palavras não mudou. Então, por que decidimos dizer adeus ao trema? Vamos explorar as razões por trás dessa mudança e entender o impacto na nossa língua.

O que foi o trema?

É hora de nos despedirmos do trema, sim! Esse sinal gráfico foi completamente eliminado das palavras da língua portuguesa e também daquelas que passaram por um processo de aportuguesamento. Embora muitos o confundissem com um acento, o trema é, na verdade, um sinal gráfico conhecido como diérese, utilizado para indicar a separação de duas vogais adjacentes em sílabas diferentes.
Bye, trema! Por que dissemos adeus ao trema no português?(Foto: Unplash).
Bye, trema! Por que dissemos adeus ao trema no português?(Foto: Unplash).
Com o Acordo Ortográfico, palavras que antes levavam o trema, como lingüiça, tranqüilo, lingüística, freqüente e cinqüenta, agora são escritas sem ele. Mas por que o trema foi abolido? A mudança se baseou na ideia de que a pronúncia do “u” após as letras g e q já é determinada pela fonética, não pela grafia. Por exemplo, em língua, sabemos que o “u” é pronunciado, enquanto em quente, não é.
Essa distinção é natural para quem fala português, tornando o trema dispensável. Afinal, por que continuar marcando palavras como lingüiça, se a pronúncia correta é intuitiva? Essa alteração teve maior impacto no Brasil, já que outros países de língua portuguesa, como Portugal, não utilizavam o trema há bastante tempo. Com sua exclusão, simplificamos ainda mais a ortografia, mantendo o foco em uma escrita mais prática e universal para todos os falantes da língua.

Em outras línguas

O trema, um diacrítico utilizado em várias línguas, tem funções distintas de acordo com o idioma. No alemão, o ele é colocado sobre as vogais a, o e u, com a finalidade de alterar o som das vogais. Ele indica uma mudança no ponto de articulação da vogal, deslocando o som de uma posição mais posterior para uma mais anterior na boca. Esse fenômeno fonético é conhecido como Umlaut (ou “metafonia”), um processo que modifica o som da vogal como se um som de “e” fosse inserido, afetando a qualidade da vogal original. Exemplos disso incluem palavras como ändern (mudar), Ähre (espiga), hören (ouvir), München (Munique), entre outras.

Já em francês e grego, o uso do trema serve a uma função diferente. Nessas línguas, o diacrítico é aplicado para distinguir sons vocálicos. Em francês, ele é usado para indicar que duas vogais consecutivas devem ser pronunciadas separadamente, quando originalmente formariam um ditongo. Por exemplo, na palavra maïs (milho), o trema separa as vogais a e i, fazendo com que a leitura seja /ma.is/ e não /mɛ/. Em grego, o trema cumpre um papel similar, como em εβραϊκό (hebraico), onde o trema indica a separação dos sons de alfa (α) e iota (ι), pronunciando-se /evraikó/.

O trema também é utilizado em outras línguas, como o espanhol e o catalão, embora com uma função mais semelhante à do português, em palavras que necessitam da separação de sílabas com gue e gui, como em vergüenza (vergonha).

No entanto, em línguas como o turco e o sueco, ele não é considerado um diacrítico para indicar mudanças fonéticas, mas sim parte integrante de letras próprias do alfabeto, como o ü. Nessas línguas, o trema não reflete um processo fonético, mas uma alteração no valor da letra, sendo parte da escrita padrão.

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