Hipérbato – o que é, onde aparece e como usar no português
Confira como usá-lo corretamente para dar ênfase e sofisticação ao seu texto.

O hipérbato é uma figura de linguagem que confere beleza, ênfase e um toque de sofisticação à escrita ao alterar a ordem direta das palavras em uma frase. Muito presente na literatura, na poesia e até em discursos formais, ele pode ser utilizado para criar impacto e despertar a atenção do leitor. Mas onde exatamente encontramos essa construção na língua portuguesa? E como podemos aplicá-la corretamente em nossos textos? Agora, nós exploraremos o conceito de hipérbato, seus usos mais comuns e exemplos para enriquecer sua escrita.
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Usando o hipérbato
O hipérbato é uma figura de linguagem caracterizada pela alteração da ordem usual dos termos em uma frase, o que justifica seu outro nome: inversão. A origem da palavra vem do grego, significando “transposição” ou “posição invertida”, pois modifica a disposição natural dos elementos do enunciado. Essa mudança na estrutura sintática exige maior atenção do leitor para compreender o sentido da frase.
Exemplos
O uso do hipérbato é bastante comum na literatura, especialmente em poesias e letras de músicas, onde a busca por sonoridade e ritmo favorece essa inversão. Também aparece na linguagem oral, geralmente para enfatizar uma ideia ou dar um tom mais expressivo à fala espontânea. Confira alguns exemplos:
“Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de vênus.” (Zé Ramalho)
Nesse trecho da canção de Zé Ramalho, o termo “quem sabe” surge intercalando a estrutura original da frase “Queria usar uma camisa de força ou de vênus”, caracterizando o hipérbato. Esse deslocamento cria um efeito de pausa e enfatiza a expressão.
“Seguiu-se um daqueles silêncios, a que, sem mentir, se podem chamar de um século, tal é a extensão do tempo nas grandes crises.” (Machado de Assis)
Aqui, a oração “a que se podem chamar de um século” é interrompida pela inserção de “sem mentir”, que aparece destacado por vírgulas, evidenciando a inversão típica do hipérbato.
Diferença entre hipérbato e anacoluto
O hipérbato e o anacoluto são figuras de linguagem que envolvem modificações na estrutura das frases, mas possuem características distintas.
Enquanto o hipérbato reorganiza os termos da oração sem comprometer sua função sintática, o anacoluto destaca um elemento no início da frase, deixando-o sem conexão sintática com o restante do enunciado. Veja um exemplo de anacoluto:
“O Carlos, ele nunca sabe o que quer da vida.”
No exemplo acima, “O Carlos” aparece no início como um tópico, mas o sujeito real da oração é “ele”. Esse deslocamento é característico do anacoluto, bastante comum na oralidade.
Outro exemplo:
“Uns livros que ficavam na estante, a gente estudava com eles.”
Inicialmente, “uns livros” parece ser o complemento de “estudava”, mas a estrutura da frase muda e o termo se desconecta da construção sintática, exemplificando o anacoluto.
Outras figuras de linguagem relacionadas
Além do hipérbato e do anacoluto, existem outras figuras que envolvem mudanças na sintaxe, como a anástrofe e a sínquise.
Anástrofe
A anástrofe ocorre quando a posição natural entre um termo determinado e seu determinante é alterada. Esse deslocamento pode ser sutil, sem que haja intercalação de outros elementos, diferindo do hipérbato. Veja um exemplo clássico:
“Melhor professor o fracasso é.” (Mestre Yoda, Star Wars)
A frase padrão seria “O fracasso é o melhor professor”, mas a inversão da estrutura confere um tom peculiar ao enunciado. Diferente do anacoluto, a anástrofe mantém a função sintática dos termos, apenas mudando sua posição na frase.
Sínquise
A sínquise é um caso mais extremo de inversão, onde os elementos da oração são reorganizados de forma tão intensa que dificultam a compreensão da mensagem. Um exemplo clássico de sínquise é encontrado no Hino Nacional Brasileiro:
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”
Se reescrita de forma mais clara, a frase ficaria: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.” Esse tipo de construção era muito usado na literatura clássica e na poesia para dar ênfase e impacto à mensagem.