Apóstrofe – uso na literatura, para que serve e exemplos

Veja como essa figura de linguagem é usada para criar impacto emocional e veja exemplos práticos de sua aplicação em textos.

A apóstrofe é uma figura de pensamento que se manifesta por meio de uma invocação ou chamamento, geralmente carregado de emoção e intensidade. Essa figura é frequentemente utilizada para conferir maior ênfase ao discurso, sendo classificada como uma espécie de vocativo, mas com um forte apelo conotativo. Seu uso é mais comum em textos literários, onde contribui para criar conexões emocionais e um tom dramático ou reflexivo.

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Por outro lado, o apóstrofo é um elemento gráfico representado pelo símbolo [’]. Sua função é indicar a omissão de uma ou mais letras em uma palavra, seja para fins estilísticos ou para adequação fonética, como no caso de contrações ou elisões. Apesar de seus nomes semelhantes, apóstrofe e apóstrofo desempenham papéis completamente distintos na linguagem, um no campo das figuras de linguagem e outro no âmbito da ortografia.

Como usar apóstrofe

Em resumo

A apóstrofe, no campo das figuras de linguagem, é uma figura de pensamento caracterizada por um chamamento ou uma interpelação, geralmente marcada por um tom enfático ou carregado de emoção. Essa figura frequentemente se manifesta em discursos ou textos que buscam dialogar diretamente com um interlocutor, real ou imaginário, de maneira conotativa, ou seja, evocando sentidos que vão além do literal.

Já o apóstrofo, por sua vez, não deve ser confundido com a apóstrofe, pois se refere a um sinal gráfico utilizado para indicar a omissão de uma letra ou som em uma palavra, como em “d’água” ou “coraçã’o”.

No universo das figuras de pensamento, além da apóstrofe, destacam-se outras como: hipérbole (exagero intencional para enfatizar uma ideia), litotes (atenuação por meio da negação do contrário), eufemismo (uso de expressões mais suaves para evitar palavras duras ou ofensivas), ironia (dizer o oposto do que se quer comunicar), prosopopeia (atribuição de características humanas a seres inanimados ou abstratos), antítese (contraposição de ideias), paradoxo (união de ideias aparentemente contraditórias) e gradação (apresentação de ideias em progressão, ascendente ou descendente).

Além das figuras de pensamento, as figuras de linguagem são classificadas em outros grupos: figuras de palavras ou de semântica, que trabalham com os sentidos das palavras; figuras de sintaxe ou de construção, que reorganizam a estrutura da frase; e figuras de som ou de harmonia, que exploram os aspectos sonoros das palavras. Cada grupo contribui para enriquecer a expressividade e a estética dos textos.

No geral

Apóstrofe é uma figura de pensamento que se destaca por interromper a narrativa ou a construção textual para realizar um chamamento ou invocação direta. Essa figura é frequentemente marcada por um tom emotivo, enfatizando um apelo ou uma conexão dramática. Alguns exemplos ilustrativos incluem:

  • Não sou digno, ó divindade, de seu perdão!
  • Vem, humanidade, pagar pelos seus crimes!
  • Eu quero te falar, ó Marta, sobre a crise climática.
  • Seus delitos, hipócritas, não ficarão ocultos!

Diferenças entre apóstrofe e vocativo

Embora ambos sejam formas de chamamento, existem diferenças significativas entre a apóstrofe e o vocativo:

  1. Vocativo: é utilizado como um termo independente na estrutura da frase, sem função sintática. Seu propósito é chamar ou atrair a atenção do interlocutor de forma objetiva, geralmente desprovida de carga emocional ou conotação expressiva.
  2. Apóstrofe: vai além do simples chamamento. Como figura de linguagem, carrega um tom conotativo e emotivo, buscando criar impacto ou transmitir sentimentos intensos.

Exemplos:

  • Apóstrofe: Não imaginei, ó Francisco, que eras tão desprezível!
  • Vocativo: Francisco, não chegue tarde hoje à noite.

Enquanto a apóstrofe expressa emoção ou ênfase, o vocativo se mantém em um registro mais neutro e objetivo.

Apóstrofe – uso na literatura, para que serve e exemplos (Foto: Unsplash).
Apóstrofe – uso na literatura, para que serve e exemplos (Foto: Unsplash).

Diferenças entre apóstrofe e apóstrofo

É importante não confundir apóstrofe com apóstrofo. Apesar de terem grafias e sons semelhantes, essas palavras têm significados distintos:

  • Apóstrofe: Uma figura de linguagem que envolve invocação ou chamamento enfático.
    • Exemplo: Não queria, ó amiga, magoar-te tanto assim!
  • Apóstrofo: Um sinal gráfico [’], usado para indicar a omissão de letras em determinadas palavras.
    • Exemplos:
      • de olhos → d’olhos
      • de hora em diante → d’hora em diante
      • esperança → esp’rança

Apóstrofe na literatura

Na literatura, a apóstrofe é especialmente comum em períodos que valorizam expressões emocionais e subjetivas, como o Romantismo e o Simbolismo. Essa figura de linguagem é usada para reforçar o tom dramático ou melancólico, estabelecendo uma conexão direta com personagens, ideias abstratas ou mesmo com o leitor.

Exemplos literários:

  1. Casimiro de Abreu, Meus Oito Anos

    Oh! dias da minha infância!
    Oh! meu céu de primavera!
    Que doce a vida não era
    Nessa risonha manhã!

  2. Cruz e Sousa, Psicologia do Feio

    Por uma espécie apenas de schopenhaurismo é que eu adoro-te, ó feio! e quereria bem rolar contigo nesse Nirvana de dúvida até à suprema aniquilação da morte…

  3. Augusto dos Anjos, Mater

    Assim, oh! Mãe, sujo de sangue, um novo
    Ser, entre dores, te emergiu do ventre!

Esses exemplos destacam como a apóstrofe pode trazer intensidade emocional e profundidade ao texto literário, conectando o leitor a experiências subjetivas e dramáticas.

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