Você sabia? Vícios de linguagem podem indicar ansiedade ou depressão

Entenda a relação entre linguagem e comunicação e ansiedade e depressão

A linguagem é mais do que um simples meio de comunicação – é uma janela para a mente humana, revelando sutilmente os complexos processos psicológicos subjacentes. Pesquisas recentes exploraram esse vínculo, analisando como os vícios de linguagem podem desvendar transtornos de saúde mental, como ansiedade e depressão. Essa abordagem inovadora abre novos caminhos para o diagnóstico e o tratamento mais precisos, permitindo que os profissionais de saúde mental decodifiquem as mensagens ocultas por trás das palavras.

O poder das palavras

Estudos têm se debruçado sobre a análise da linguagem como uma ferramenta potencial para identificar transtornos mentais. Um estudo recente, publicado no Journal of Psychopathology and Clinical Science, identificou padrões de linguagem únicos e compartilhados entre dois transtornos frequentes: ansiedade e depressão.

Participantes e metodologia

O estudo envolveu 486 participantes com mais de 18 anos, incluindo indivíduos identificados com transtorno de ansiedade generalizada, depressão ou ambos, além de um grupo de controle sem doenças mentais. Os pesquisadores utilizaram questionários clínicos e autoresrelatos para avaliar os transtornos mentais, bem como analisaram cuidadosamente a linguagem utilizada pelos participantes.

Ansiedade e depressão

Embora a ansiedade e a depressão sejam condições distintas, os resultados revelaram várias características de linguagem comuns a ambos os transtornos. Essas semelhanças sugerem uma preocupação compartilhada com estados internos, bem como padrões cognitivos e emocionais semelhantes.

Ênfase nos sentidos e emoções

Indivíduos com ansiedade ou depressão tendem a usar mais palavras relacionadas à percepção, como “olhar”, e ao corpo, como “sono” e “cabeça”. Além disso, empregam frequentemente palavras relacionadas a sentimentos, como “senti” e “dor”, destacando uma atenção acentuada aos estados internos.

Busca por causas e precisão

Outra característica comum é o aumento do uso de linguagem causal, com palavras como “porque” e “desde”, indicando uma forma mais abstrata de análise de informações e uma ênfase nas razões por trás de emoções ou eventos. Além disso, o uso frequente de preposições, como “como” e “sobre”, pode refletir um desejo de precisão na comunicação.

Questionamentos e incertezas

Pessoas com ansiedade ou depressão tendem a fazer mais perguntas, usando mais interrogativas como “o que”, “onde” e “quando”. Esse padrão pode indicar uma busca por informações e uma intolerância à incerteza, características comuns nesses transtornos.

Desconexão com o mundo externo

Curiosamente, esses indivíduos tendem a usar menos artigos, como “um” e “o”, o que pode sugerir uma falta de atenção ao mundo externo. Além disso, o uso frequente de verbos comuns e do pronome “eu” pode refletir problemas com a distância em relação a si mesmo e uma preocupação excessiva com os próprios pensamentos e sentimentos.

Contagem de palavras elevada

Outra característica compartilhada é a contagem de palavras mais altas, geralmente associada a relatar um maior número de problemas ao interlocutor. Essa tendência pode ser um reflexo da necessidade de expressar as dificuldades vivenciadas.

Você sabia? Vícios de linguagem podem indicar ansiedade ou depressão
Entenda a relação entre vícios de linguagem e depressão. Imagem: Freepik

Ansiedade X depressão

Embora haja semelhanças significativas, certas características de linguagem foram mais específicas para a ansiedade ou a depressão, revelando nuances importantes nesses transtornos.

Ansiedade

A ansiedade estava mais associada a uma ampla gama de palavras que denotam emoção negativa, como “ansioso”, “preocupado”, “estressado”, “pior” e “difícil”. Essa linguagem comunicada de emoções negativas pode ser um reflexo do estado de constante apreensão e preocupação vivenciado por pessoas com transtorno de ansiedade.

Depressão

Por outro lado, a depressão estava associada principalmente a palavras relacionadas à solidão e tristeza, como “desculpe”, “baixo” e “perdido”. Além disso, houve uma falta notável de palavras com emoção positiva, como “gentil”, “bom” e “amor”. Essa ausência de emoções positivas pode ser um indicador de anedonia, um sintoma comum de depressão.

O uso  excessivo do “eu”

O uso frequente do pronome “eu” foi observado tanto na ansiedade quanto na depressão, embora tenha sido mais proeminente na depressão. Esse padrão pode indicar uma atenção excessiva externa para si mesmo, o que geralmente envolve se fixar em conteúdo negativo relacionado ao eu.

Consequências pessoais e sociais do uso excessivo do “eu”

O uso excessivo do “eu” pode ter consequências negativas tanto em nível pessoal quanto social. Em termos pessoais, concentrar-se demasiadamente na experiência interna negativa pode impedir a adoção de uma perspectiva distante de si mesmo, o que as pesquisas anteriores relacionaram a uma redução da depressão e um maior senso de significado na vida.

No âmbito social, quando o conteúdo negativo relacionado a eu é expresso verbalmente em situações sociais, na forma de compartilhamento excessivo de pensamentos negativos ou na busca excessiva por tranquilização, isso pode deixar os ouvintes desconfortáveis, irritados ou frustrados, levando possivelmente à contaminação.

Novas descobertas

Além das características já conhecidas, o estudo revelou alguns padrões linguísticos relacionados à depressão e à ansiedade que não foram relatados anteriormente.

Depressão e palavras mais curtas

Uma dessas descobertas é que indivíduos com depressão parecem usar palavras mais curtas, possivelmente como resultado de fadiga ou retardo psicomotor. Esse padrão pode ser um indicador sutil, mas significativo, da presença de sintomas depressivos.

Referências a alimentação e peso

Pessoas com depressão também são mais propensas a fazer referência a comer e peso, o que pode estar relacionado a uma imagem corporal negativa, alta insatisfação corporal ou distúrbios de apetite, peso e gastrointestinais, comuns nesse transtorno.

Ansiedade e uso reduzido de negações

Por outro lado, indivíduos com transtorno de ansiedade generalizado são menos propensos a usar negações, como “não” e “nada”. Essa descoberta pode indicar que pessoas ansiosas têm mais dificuldade em compartilhar abertamente com os outros.

Conjunções e interrogações

O estudo também fornece evidências de que a ansiedade é expressa ao se discutir problemas, pois há um aumento no uso de conjunções, que podem indicar a abordagem de questões complexas, e de interrogações, talvez refletindo a busca por respostas.

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