Vida e obra de Bocage – poesia, paixão e provocação

Bocage destacou-se como um renomado poeta português do período neoclássico, também conhecido como setecentismo ou arcadismo, e é frequentemente apontado como um dos precursores do Romantismo em Portugal. Reconhecido como um dos mais influentes poetas e sonetistas portugueses do século XVIII, Bocage ocupa um lugar de destaque na literatura lusa. Ao lado de Camões e Antero de Quental, ele integra o trio dos mais importantes sonetistas líricos da tradição literária portuguesa.

Leia também: Qual é a importância de ensinar filosofia no ensino médio?

Vida e obra de Bocage

Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage nasceu em Setúbal, no dia 15 de setembro de 1765, filho do advogado José Luís Soares de Barbosa e de Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, descendentes de famílias oriundas da região da Normandia, na França.

Bocage foi um dos seis filhos do casal e recebeu uma educação esmerada, destacando-se nos estudos de línguas (como francês, latim e italiano) e literatura, áreas que contribuíram para moldar o futuro poeta. Desde jovem, demonstrava um comportamento inquieto e aventureiro, características que mais tarde marcariam sua vida boêmia e polêmica. A infância de Bocage foi marcada por dificuldades. Aos seis anos, enfrentou a prisão de seu pai, e aos dez, ficou órfão de mãe. Ainda assim, seguiu um caminho que o levaria a grandes experiências.

Envolveu-se com o exército e, posteriormente, com a marinha portuguesa, o que o permitiu viajar por diferentes partes do mundo. Durante sua trajetória como guarda-marinha, passou pelo Brasil, África, China e pela Índia, onde também desempenhou funções militares. Em 1790, Bocage retornou a Lisboa e deu início à sua carreira literária, dedicando-se inteiramente à escrita até o final de sua vida.

Nesse mesmo ano, foi convidado a participar das Arcádias, associações literárias que reuniam escritores da época, e ingressou na Academia das Belas Letras, também conhecida como Nova Arcádia. Nessa fase, adotou o pseudônimo Elmano Sadino, com o qual assinaria boa parte de sua obra.

Vida e obra de Bocage – poesia, paixão e provocação (Foto: Unsplash).
Vida e obra de Bocage – poesia, paixão e provocação (Foto: Unsplash).

Sua produção literária foi marcada por uma mistura de lirismo, crítica social e sarcasmo, o que frequentemente o colocou em confronto com a sociedade e a Igreja. As sátiras que escreveu contra o clero e o poder religioso levaram-no a ser perseguido e preso pela Inquisição. Essas experiências, somadas à sua inquietude e à sua vida boêmia, refletiram-se em sua obra, que apresentava elementos típicos das tendências pré-românticas.

Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage faleceu em Lisboa, no dia 21 de dezembro de 1805, aos 40 anos, vítima de um aneurisma. Ele passou seus últimos anos na companhia de sua irmã, em uma casa localizada no Bairro Alto, na Travessa André Valente, n.º 25. Nesse local, uma lápide ainda hoje homenageia o poeta, com os dizeres: “Aos 21 de dezembro de 1805, faleceu nesta casa o poeta Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage.”

Bocage deixou um legado como um dos mais notáveis poetas portugueses, cuja influência atravessou os séculos, consolidando seu lugar na história da literatura.

Principais obras

O próprio Bocage afirmou em seus versos: “Rasga meus versos. Crê na eternidade”. Sua obra é marcada por um lirismo intenso, repleta de erotismo, individualismo e críticas sociais. Com uma linguagem característica do neoclassicismo — clara, concisa, correta e elegante —, o poeta abordou temas variados, incluindo paisagens bucólicas, cenas pastorais e elementos da mitologia clássica.

Bocage também se destacou pela diversidade de sua produção literária, que inclui traduções e composições nos mais diversos gêneros. Entre suas obras, encontram-se poesias eróticas, burlescas e satíricas, além de odes, canções, idílios, epístolas e fábulas. Algumas de suas principais criações são:

  • “Morte de D. Ignez de Castro”;
  • “O Triunfo da Religião”;
  • “A Pavorosa Ilusão”;
  • “A Virtude Laureada”;
  • “À Puríssima Conceição de Nossa Senhora”;
  • “Elegia”;
  • “Convite à Marília”;
  • “Improvisos de Bocage”;
  • “Idílios Marítimos”;
  • “Mágoas Amorosas de Elmano”;
  • “Queixumes do Pastor Elmano Contra a Falsidade da Pastora Urselina”.

Essas obras consolidam Bocage como uma figura singular na literatura portuguesa, evidenciando sua habilidade em transitar entre estilos e temas enquanto perpetuava sua visão artística e crítica.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.