Hora literária – conheça “Vidas secas”, de Graciliano Ramos
Um clássico da literatura brasileira que retrata a dura realidade do sertão nordestino por meio da trajetória de uma família em busca de sobrevivência.
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O livro “Vidas Secas”, escrito pelo autor brasileiro Graciliano Ramos, foi lançado originalmente em 1938. A narrativa, estruturada em 13 capítulos, retrata a dura trajetória de uma família de retirantes que enfrenta as adversidades do sertão nordestino. Os personagens centrais são Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos — chamados apenas de menino mais novo e menino mais velho — e a cadela Baleia.
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Graciliano Ramos, nascido em 1892 e falecido em 1953, constrói a história com uma abordagem realista, sem romantizar a seca e a miséria características daquela região. O autor utiliza um narrador onisciente, que apresenta os acontecimentos sob a perspectiva dos protagonistas, oferecendo um olhar íntimo sobre suas angústias e dificuldades. A obra pertence à segunda fase do modernismo brasileiro, destacando-se como um importante retrato social da década de 1930.
Análise de “Vidas secas”, de Graciliano Ramos
Personagens da obra
- Fabiano
- Sinhá Vitória
- O filho mais novo
- O filho mais velho
- Baleia
- O soldado amarelo
- Seu Tomás da bolandeira
- Sinhá Terta
Tempo da narrativa
O tempo cronológico não é claramente definido na obra, mas há indícios de que a história se passe nas primeiras décadas do século XX. O foco principal, contudo, é no tempo psicológico, que ressalta as angústias, desejos e vivências internas dos personagens.
Espaço da narrativa
O cenário da história é o sertão nordestino, uma região marcada pela aridez, pela luta pela sobrevivência e pelas dificuldades impostas pela seca.
Resumo do enredo
Em “Vidas Secas”, a narrativa acompanha uma família simples e sertaneja: Fabiano, sua esposa Sinhá Vitória, os dois filhos pequenos e a cadela Baleia. A história começa com eles vagando pelo sertão, debilitados pela fome e pela seca, até encontrarem abrigo em uma fazenda abandonada. Com a chegada das chuvas, a terra floresce, e o grupo permanece no local, nutrindo a esperança de uma vida melhor.
Fabiano é um homem rude e introspectivo, que não se vê como um ser humano completo, mas sim como um “bicho” destinado a obedecer. Oprimido pela injustiça social, ele teme o conhecimento e relembra as lições de seu Tomás da bolandeira, que, por saber demais, não suportou a dureza da vida.
Sinhá Vitória compartilha a dureza da rotina com o marido, mas tem sonhos simples, como possuir uma cama grande e resistente. Enquanto Fabiano cuida dos afazeres no campo, ela se dedica à casa e à criação dos filhos.
As crianças demonstram personalidades distintas: o filho mais novo admira o pai e tenta imitá-lo, enquanto o mais velho se mostra curioso e questionador, desafiando o mundo com suas perguntas sobre o inferno e o cotidiano sertanejo. Baleia, por sua vez, é mais do que uma cadela; representa a inocência, a lealdade e o afeto que a família mantém apesar das adversidades.
Durante uma ida à feira, Fabiano enfrenta uma situação traumática ao ser enganado e preso injustamente por um soldado amarelo, que simboliza a opressão das autoridades sobre os mais pobres. A humilhação e a revolta o acompanham, mas, quando surge a oportunidade de se vingar, ele recua, resignado.
Em meio a uma breve tentativa de diversão na festa de Natal, a família percebe que não pertence àquele espaço urbano. Pouco tempo depois, Baleia adoece, e Fabiano, entre lágrimas, precisa sacrificá-la.
A seca retorna, implacável, forçando a família a deixar a fazenda e retomar a caminhada incerta pelo sertão. Na estrada, Sinhá Vitória olha para o horizonte, nutrindo a esperança de um futuro melhor em uma cidade grande, onde os filhos poderiam estudar e ter uma vida diferente da que conhecem.
Narrador
O romance “Vidas Secas” apresenta um narrador onisciente, capaz de conhecer profundamente tanto os acontecimentos quanto os pensamentos e sentimentos das personagens. Dessa maneira, a narrativa é conduzida a partir da perspectiva interna de cada uma delas.
Características da obra
Publicado originalmente em 1938, o livro tem uma estrutura fragmentada, com capítulos que oferecem uma visão particular de diferentes personagens. A obra é composta por 13 capítulos independentes e integra a segunda fase do modernismo brasileiro. Assim, carrega as marcas do romance social de 1930, tais como:
- crítica social e realidade econômica;
- enfoque regionalista;
- ausência de idealizações;
- subjetividade nas perspectivas narrativas;
- valorização do ambiente;
- determinismo social;
- linguagem acessível e direta.